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de
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Wesley Diogenes
Nuvem de Calças
Fragmentos... (Maiakóvski)
Alo!
Quem fala?
Mamãe?
Mãe!
Teu filho está esplendidamente enfermo.
Tem um incendio no coração.
Dize às manas Ludmila e Olga
que ele já não sabe pra onde ir.
Que cada palavra
Até a mais leve graça
que lhe sai da boca ardente
salta como uma prostituta nua
fugindo de um bordel em chamas
As gentes farejam:
_ " Cheira a queimado!"
Chamaram a quem?
Brilham capacetes...
São inúteis essas botas gigantes...
Dizei aos bombeiros
que subam ao coração em chamas
com um par de carícias!
Eu mesmo
derramarei de meus olhos
tonéis de lágrimas.
Deixai que eu me apóie
em meu próprio peito.
Saltarei, saltarei, saltarei!
É inútil. Tudo desaba.
Jamais fugirás de teu próprio coração.
No rosto queimado
pela fenda dos lábios
um beijo carbonizado
assoma
pronto a saltar.
Mãe!
Não posso mais cantar.
No templo de meu coração
o altar está em chamas!
Palavras e números
como figuras ardentes
fogem de meu crânio
como crianças de uma casa em fogo.
Era assim que o pavor
de não poder agarrar-se nas núvens
erguia os braços-labareda do Lusitania
Ante a tímida gente
que vive na paz caseira
ergue-se um halo de incêndio
de mil olhos.
O meu derradeiro grito!
Dize aos séculos futuros
pelo menos isto:
Que eu estou em chamas.
Esse poema desde a primeira vez que li impressionou -me de uma forma, que sempre releio em busca de uma análise introspectiva dos meus sentimentos e de como ele consegue se encaixar em várias situações da minha vida. Explicar o sentindo dele é tão complexo como conseguir compreendê-lo em sua totalidade, o que tentarei explanar aqui através dos meus devaneios, são apenas sentimentos novos, alguns desconhecidos e outros bastante repetitivos e insistentes, mascarado dessa vez com desconhecidas cores.
O bom de sermos diversificados é a possibilidade de vivenciarmos várias emoções ao mesmo tempo, alimentando assim nossa bipolaridade até fazer sentir o fervor dos extremos, vivenciando alegrias mentirosas, felicidades desconhecidas, desejos irreais e sonhos fictícios que só conseguimos visualizar de olhos abertos com a doce ilusão de fazê-lo real. Mas, o importante é sonhar e fazer da mais leve graça um espetáculo que faz sorrir a angustiante solidão do viver.
Fazendo uma analogia de sentimentos com essa prostituta fugindo em um bordel em chamas, me faz pensar que a prostituta do sentir é a solidão de um prazer efêmero, um desejo comprado, uma sastifação física sobre os moldes de quem se doa por necessidades e de quem compra por carência. Nossa meretriz sentimental nada mais é que nós mesmo buscando vender nossa alma por grandes amores que vem e nunca voltam, amiúde adquiridos por pessoas que usam a máscara da força sentimental, tentando vencer uma espectro imaginário de outrem que já se foi.
Alegraria-me grandemente acordar desses sonhos intranquilos e perceber que esse bordel que pega fogo foi apenas um pesadelo, fazendo-me sentir a paz de uma doce vida tradicional de uma exemplar família cristã, caminhando sempre sobre a falsa realidade de uma normalidade ilusória, que apenas segue o rumo de mentiras que se tornaram verdades e de verdades que se tornaram apenas uma utopia distante. O difícil é saber quando estou acordado ou dormindo, a rotina instigante desse vai-e-vem impede que a minha cognição consiga diferenciar verdade de ficção, criando assim a dúvida dolorosa: o fogo que eu vejo queima-me ou é apenas uma labareda fictícia de um “teatro sem cor”.
Enquanto não consigo distinguir o real do irreal vou intextualizando a poesia do magnífico Maiakóvski com a música Luz Negra interpretada por Cazuza, que faz queimar em minha alma chamas de pensamentos nostálgicos e sorumbáticos :
"Sempre só
eu vivo procurando alguém
que sofra como eu também
mas não consigo achar ninguém...
...A luz negra de um destino Cruel
Ilumina um teatro sem cor
Onde eu tô representando o Papel
Do palhaço do amor”
Refletindo sobre isso o que me resta é pedir aos astros e aos deuses do Olimpo que me envie o doce aconchego de um auxílio humano, que faça-me com suas carícias e amor, apagar essas labaredas que carbonizam minhas emoções com a fúria destrutiva da solidão. Que a personalidade desse auxílio seja ingênuo e meigo de um jeito que faça-me mergulhar como uma criança na deliciosa calmaria do fundo de um oceano, onde o fogo da dor e da angústia fiquem distantes, dando lugar apenas a linearidade boa de um horizonte interminável de alegrias duradouras que jamais se tornam insaciáveis.
Que nas noites que o fogo conseguir me encontrar e o que o aconchego dos braços que me protejam não forem suficientes, ela carinhosamente cante com sua voz suave a estrofe desse poema...
...Agora vamos alcançar
Tudo o que não
Podemos amar na vida
Com o estrelar
Das noites inumeráveis...
Saudações em Chamas Para Quem é Frio
2 Comentários:
Incrível!
Pra quem viveu um pouquinho mais que vc quero dizer que a dor e o sofrimento são sempre vividos na solidão. Só há encontro, o fim da solidão na celebração.
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