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“Quem és tu que a ilusão é tanta que é incapaz de definir o teu eu” (Mundo Quintal) |
Éramos 4, o eu verdadeiro, ele, ela e nós, vivíamos sobre os altos e baixos de criações e aventuras, alegrias e omissões recíprocas, guardando para si os segredos do pensamento contrário dessa relação, fugindo das dúvidas, riscando os medos e triturando as indagações com o receio de sair da linha normalidade e da boa convivência, atuando com sorrisos cheios de dentes, lágrimas invisíveis e pensamentos abstratos escondidos até da própria consciência, constantes indações sem nenhuma pergunta, várias revoluções sem nenhuma arma, tudo movido pela práxis da ociosidade mórbida e letárgica de sonhos amordaçados por perspectivas ruins e as nuvens sempre recheadas de pingos de pessimismo com alguns raios de esperanças nas tempestades bipolares, onde os furacões apresentavam gritos de boas novas e a calmaria aparecia selvagem com os grilhões do fictício carpe diem que não passava de sujeição e conformismo em aceitar vidas inventadas e maquiadas.
O Eu foi preso com as algemas da hipocrisia e das inverdades, sobre acusação de introspecções constantes e subversivas de respostas e perguntas reacionárias do próprio eu, que há muito tempo foi escondida, dizem eles, sobre a criação abstrata de um ser inventado que há muito tempo deixou seus ‘eus’ presos na caverna da verdade, sobre a promessa dos Eus se libertarem em um devir paradisíaco, enquanto isso para eles se fez necessário seguir o percurso sem perguntas, sem respostas, sem verdades e sem vida, vivendo apenas o espectro do ELE que tomou o lugar do Eu preso na caverna da verdade para o ELE caminhar na mentira do teatro da vida sem cor, onde encenamos o papel criado por eles e nós, onde a verdade é apenas um verbete de uma fala utópica do personagem do sonhos que foi trancafiado sem nunca se apresentar para ninguém.
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Criei em mim várias personalidades. Crio personalidades constantemente. Cada sonho meu é imediatamente, logo a aparecer sonhado, encarnado numa outra pessoa, que passa à sonhá-lo, e eu não. Para criar, destruí-me, exteriorizei dentro de mim, que dentro de mim não existo senão exteriormente. Sou a cena viva onde passam vários atores representando várias peças. Fernando Pessoa |